terça-feira, 23 de agosto de 2011

Para se informar: BULLYING

O Problema do mundo sem Bullying
A palavra bullying faz qualquer pai se arrepiar de medo. Mas uma linha de especialistas diz que não há o que temer: crianças e adolescentes precisam passar por apuros, e sozinhos. Do contrário poderão cair numa enrascada ainda pior.

ERA COISA DE CRIANÇA!!. Colar chiclete na cadeira dos outros, fazer cuecão no nerd da turma, rir do cabelo cortado do colega. Mas agora brincadeira como essas ganharam um nome sério: bullying. E passaram a ser resolvidas por adultos: pais, mestres e até, em alguns casos a policia.  
O termo bullying significa a prática de agredir alguém dísicamente, verbalmente e até por atitudes (como caretas). Mas tem sido usado como um alarme, um chamado para que adultos interfiram no relacionamento de seus filhos e alunos. Uma nova linha de pesquisadores, no entanto, vem defendendo que o bullying nçao é necessariamente uma problema para gente grande. Segundo eles, as picuinhas entre crianças e adolescentes devem ser resolvidas pelos próprios envolvidos. Sem adultos como juízes.

Esses especialistas não dizem que crianças devem trocar socos na saída da escola. Nem que apanhar faz bem. Afirmam, sim, que disputar è como um rito, pelo qual passamos no inicio da vida para saber enfrentar as encrencas maiores do futuro. Afinal, fazemos isso desde os tempos mais remotos. “Em boa parte da historia da humanidade a agressão foi um traço adaptativo”, escreve Monica J. Harris, professora de psicologia da universidade do Kentucky, em Bullying, Rejection and Peer victimization(sem tradução em português). No passado, os homens disputavam comida para garantir sobrevivência. O conflito definia qum ia perpetuar a espécie e quem ficaria para trás. “Aqueles humanos mais agressivos em termos de buscar coisas e proteger seus recursos e parentes tinham mais chances de sobreviver e reproduzir”, afirma Monica. Enquanto os homens teriam aprendido a usar a força física as mulheres desenvolveram habilidades mais sutis, como agressões verbais – fofocas e rumores.

Se antes essas táticas garantiram a sobrevivência, hoje nos ajudam no convívio social. Quando as crianças deixam o conforto do lar para freqüentar o colégio, descobrem que nem sempre suas vontades são atendidas. E que precisam negociar o tempo todo, como por brinquedo ou por um lugar para sentar. Sem passar por isso, será mais difícil lidar com um desafeto no futuro, como um chefe, o sindico do prédio ou aquele amigo que empresta dinheiro e nunca paga.

O resultado da superação desses primeiros embates aparece cedo. Um estudo com 2 mil crianças com idade de 11 e 12 anos feito pela Universidade da Califórnia em Los Angeles mostrou que aquelas que tinham algum rival na turnma da escola eram vistas como mais maduras pelos professores. As meninas que reagiam a alguma antipatia foram consideradas dona de maior competência social. Os meninos com inimizades foram classificados com melhor comportamento. Nesses casos – que não envolviam agressões físicas, segundo a pesquisa - , as crianças não só aprenderam a reagir a menosprezo, pressão e sarcasmocomo ainda ganharam status n colégio. “Tanto para meninos quanto para meninas, ter uma antipatia mutua com alguém de outro sexo é associada a popularidade”, escreve a pesquisadora e autora do estudo Melissa Witkow, hoje professora de psicologia da Universidade Willamette, nos EUA. 
Medo: O rival dos pais
A recente onda de crimes ligados a bullying, no entanto, criou o temor de que crianças e adolescentes talvez não dêem conta da briga sozinhos. A comprovação disso estaria em casos como o de Wllington Menezes de Oliveira, que guardou por anos o rancor das humilhações que passou em um colégio em Realengo, no rio de Janeiro – até voltar lá, em abril, e disparar contra alunos, deixando 13 mortos. O resultado da historias assim foi uma pressão de pais , mestres e legisladores para que o comportamento das crianças sejam mais controlado. E para que até a policia seja chamada para impedir as agressões. Em junho, o Senado brasileiro aprovou um projeto de lei determinando que as escolas inibam atitudes e situações que possam gerar bullying(o projeto segue para Câmara). Em maio, um americano de 17 anos, que não teve o nome divulgado pela policia, foi preso por dar notas ás colegas de turma – altas para as mais bonitas, baixas para as mais feias – e publicar no Facebook.

Essa reação é chamada de superproteção pelos pesquisadores que defendem a não intervenção dos adultos nas disputas entre crianças e adolescentes. “è como se o mundo inteiro estivesse sofrendo de amnésia. Os adultos se esqueceram de que passaram pelas mesmas disputas no colégio”, diz Helen Guldberg, psicóloga e professora de desenvolvimento infantil na Open University, Inglaterra. Segundo Helen, estamos julgando as atitudes das crianças com base nos valores de adultos. “O comportamento das crianças - as palavras que usam, o jeito brusco com que , por exemplo, excluem outros de suas brincadeiras – está sendo julgado com a seriedade com que encararíamos o relacionamento entre adultos em um escritório”, afirma.

Essa linha de não intervenção defendida por gente como Helen Guldenberg é polemica. Para críticos, desavenças simples podem ser o inicio de conflitos mais graves – eventos que poderão deixar marcas físicas e psicológicas. “O bullying é um problema sério que precisa ser combatido”, diz Aramis Lopes Neto, pediatra e estudioso do tema. Mas em um ponto as duas linhas concordam: quando a briga se eepete e se prolonga por um tempo, e só um lado sai sempre vitorioso, é porque a criança já está derrotada. E é hora de os adultos entrarem em ação.

Prestar atenção ao comportamento da criança ajuda a descobrir se é o caso de intervir. Mudanças repentinas, como queda no desempenho escolar ou aumento da agressividade, são sinais importantes. Se o problema não for resolvido, alguns efeitos podem se estender. “Muitos adultos trazem da infância dificuldades de relacionamento social e baixa autoestima”, afirma Lopes Neto. Isso atrapalharia a vida profissional e pessoal, como a capacidade de manter relacionamentos estáveis. “Há vitimas que não se desenvolveram profissionalmente por medo de se expor e se tornar alvo de bullying no trabalho”, diz o médico. É como se elas não conseguissem nunca sair da zona de conforto. Exatamente o que pode acontecer com quem passa a infância na sombra dos pais, sem enfrentar uma briga sozinho.





COMO LIDAR?
Se os pais sentem que a criança não está conseguindo resolver suas disputas sozinhas, talvez seja a hora de ajudar.
“ A família deve mostrar que está atenta às agressões”, afirma o pediatra Aramis Lopes Neto. E pedir colaboração da escola. Programas que incluem esportes, artes e brincadeiras ajudam a inserir a criança na círculo dos colegas. “ Melhorar as relações no colégio significa para as crianças um aumento de confiança e o sentimento de que ela é aceita”, diz Dan Olweus, professor de psicologia da Universidade Noruega, no livro Bullying at School.

Revista Superinteressante – agosto de 2011.

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